Certa vez falei de seus desarmes e de sua vocação ao surrealismo. Retratei o significado da sua camisa quatro, dona de seis títulos estaduais e uma marca particular de raça, suor e sangue. Falei de Carlos Alberto da Silva Cavalcante, o Beto. Embora seja suspeito homenageá-lo, tamanha é a admiração pela sua história.
Reinventa - se a “devoção” a um mito do futebol bicolor. Um mito diferente, mas ainda assim um mito. Um personagem que fez história no time por catorze anos e hoje faz no clube.
Atualmente, benemérito dos mais atuantes. No passado, ídolo que chegou ao Paysandu aos dezessete anos e deixou-o aos trinta, notabilizando-se como o “carregador de piano” mais ilustre da Travessa Curuzu.
Foi nas partidas preliminares do time de aspirantes que tudo começou. O garoto que desembarcou desconhecido no Leônidas Castro para levar o Paysandu à supremacia do futebol paraense por seis ocasiões e escreveu seu nome na história do clube.
Falei uma vez: é o homem que faz parte da história do clube e o clube que faz parte da história do homem. O mesmo, obstinado volante, que defendia essas cores com uma disposição inesgotável e contagiante que o consagrou tantos anos depois de pendurar as chuteiras.
Beto era, nas metáforas do futebol, um invisível. Jogava para o time, nunca para a massa. “Ensacava” craques e preparava o palco para que desfilasse a imortalidade de mitos como Quarenta,Bené e Ércio.
Obrigado pela dedicação e pela entrega canina, Beto. Obrigado por defender essa história quase centenária que se confunde com a sua própria. Obrigado por imortalizar o pouco badalado número quatro, que entra, com a justiça de um grande dono, para a coleção de números místicos da numerologia alvi-celeste.