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De Caracas a Belém: venezuelano encontra refúgio no Paysandu e vira atleta bicolor

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Durante uma partida de basquetebol, muitos técnicos tentam defender a equipe com uma forte marcação sobre o armador principal do time adversário, para que ele não conduza a bola até o campo de ataque. Quando isso ocorre, quem aparece com a função de desarticular a jogada é o ala-armador, que assume o papel principal e organiza o time. No sub-17 do Paysandu Sport Club, essa responsabilidade é do venezuelano Mailerson Requena, um especialista no assunto dentro e fora das quadras esportivas.

O jovem atleta de apenas 17 anos, que desde a infância sempre se dedicou ao esporte, com participação inclusive em torneios em Caracas, capital do seu país de origem, chegou ao clube bicolor movido por muitos objetivos e um único sonho: se tornar um jogador profissional de basquete, para alcançar seu maior objetivo na vida, que é organizar a sua principal equipe, a própria família.

Apesar de adolescente, ainda com apenas 16 anos, ele vivenciou de perto todas as dificuldades ocasionas por uma profunda crise política que atinge a Venezuela. Após a conclusão dos estudos escolares, sem recursos para ingressar em uma universidade, sem emprego e sem boas perspectivas, recebeu a notícia de que seria pai. A partir daí, o jogo da vida pareceu bem mais complicado e então o garoto assumiu de vez o protagonismo na família.

O técnico Haroldo Marques elogia a dedicação e o talento do jovem Mailerson Requena

O primeiro passo foi abraçar a sua esposa, Katiusca e, em seguida, como um legítimo ala-armador, procurar novas alternativas. A melhor saída encontrada foi deixar o território venezuelano para trás e partir em busca de novas oportunidades. “Eu conclui meus estudos escolares, teria que ir para a universidade, mas não tinha dinheiro para isso. E mesmo com dinheiro, muitas vezes lá não encontramos comida, leite, fralda para neném, nem emprego, então como a minha mulher estava grávida, nós decidimos vir para cá para o Brasil enfrentar tudo isso pelo neném”, contou.

A CHEGADA

Em janeiro deste ano, o casal decidiu desembarcar na Amazônia. Depois de passar por Boa Vista (RR) e Manaus (AM), ambos se instalaram em Belém, onde Katiusca reencontrou a sua mãe, refugiada desde 2017. Em meio a tantas mudanças de locais, pessoas e idiomas, uma das poucas coisas que não mudaram foi a paixão pelo basquete. “Eu estava procurando uma quadra de basquete desde que cheguei ao Brasil, mas não consegui por onde passei e aqui em Belém estava procurando desde que cheguei. De tanto procurar, uma amiga venezuelana que já está aqui há mais tempo disse que tinha aqui e que o time se chamava Paysandu. Foi o suficiente para eu encontrar uma nova motivação para não desistir”, afirmou.

O jovem de 17 anos ainda aguarda sua documentação para estrear no Paraense da categoria

Após quase cinco meses de procura, até tomar conhecimento de que havia um local para dar continuidade à prática do esporte que tanto gosta, Mailerson não pensou duas vezes e, sem perder mais tempo, procurou a sede bicolor para retomar os treinamentos. “Tirei uma tarde para inicialmente vir buscar informações no clube e, para minha alegria, já no primeiro contato, quando fui recebido pelo Mateus, que é um outro atleta que também joga na minha mesma categoria, já me informaram que eu poderia ficar treinando”, disse.

HOSPITALIDADE

Mesmo em meio a tantas dificuldades, segundo o venezuelano, a partir daí a alegria parece ter voltado, não só pelo fato de poder praticar o esporte que tanto gosta, mas também por outro fator determinante: a acolhida do grupo bicolor. “É muito ruim ser um venezuelano, estar em outro país e ser tratado com indiferença, eu acho que não deveria ser assim. E essa é uma das minhas maiores felicidades aqui no clube, onde encontrei muitas pessoas boas, pois desde quando cheguei, me receberam muito bem, desde então me sinto acolhido”, agradeceu.

Quando deixou seu país, o venezuelano passou mais de cinco meses afastado das quadras

Atleta do Paysandu há aproximadamente três meses, hoje, Mailerson, que também já é pai de Kayler Requena, filho paraense, de cinco meses, se sente tão bem ambientado ao clube que inclusive frequentemente leva sua família ao Ginásio Moura Carvalho para que eles possam lhe assistir em ação, sob o comando do técnico Haroldo Marques, treinador de basquete da categoria sub-17 bicolor, que garante que o venezuelano, além de talento, também tem muita dedicação. “Ele constantemente traz os seus familiares para que o vejam treinando aqui no clube, o que deixa o ambiente muito saudável. Ele tem um potencial enorme, tanto que começou a jogar na categoria ainda com 16 anos, e mesmo um ano abaixo, se destacou bastante. Tem um ótimo controle de bola, visão de jogo, é muito rápido, tem muita aplicação e força de vontade em dar sempre o melhor que pode”, detalhou.

INCLUSÃO

Sem contar o fato de oportunizar a prática esportiva, o técnico ressalta ainda o importante papel social que o Paysandu desenvolve ao ajudar a inserir o jovem imigrante na sociedade brasileira, uma vez que, além de mostrar suas qualidades esportivas, ele também terá a chance de fazer contatos e quem sabe abrir novas portas fora da perspectiva de vida. “Nós recebemos ele de braços grandes e abertos. Apesar de novo, ele já tem uma grande história de vida. Além de ótimo jogador, independente da situação que ele esteja, é uma ótima pessoa que está em busca de dar o melhor para a sua família, assim como todos nós. Através do basquetebol, nós podemos ajudá-lo a ser inserido na sociedade, damos a chance de mostrar o seu potencial e nós também ganhamos como mais um atleta de qualidade no clube, então todos saem ganhando”, reforçou Haroldo Marques.

O novo integrante da equipe agradeceu aos seus colegas pela acolhida

Atualmente, Mailerson já protocolou uma solicitação de refúgio no Núcleo de Registro de Estrangeiros da Polícia Federal, em Belém, e agora aguarda a conclusão do processo. Por outro lado, como o Paysandu já estreia no returno do Campeonato Paraense de Basquete nesta quinta-feira (30), contra o Clube do Remo, em partida marcada para às 19h30, no ginásio Serra Freire, a Diretoria bicolor também corre contra o tempo para tentar regularizá-lo na competição. “A situação ainda está indefinida em virtude da documentação dele aqui no Brasil. Nós já enviamos toda a papelada dele para a Federação, que deve enviar para a CBB para nos orientar como poderá ser feita a validação dele no campeonato. Eu espero que dê tudo certo na parte burocrática, para que ele possa nos ajudar no campeonato”, concluiu o treinador.

Enquanto aguarda a liberação da parte burocrática de documentação para atuar oficialmente dentro das quatro linhas, o refugiado venezuelano fã de Kyrie Irving (armador no Boston Celtics que disputa a NBA) segue na luta fora das quadras, onde também atua como um legítimo armador, organizando seus planos futuros, em busca de viver uma vida digna com sua família. “Eu já fiz o que precisava e agora torço muito para que dê tudo certo nessa parte de documentação o quanto antes possível, que eu possa voltar a disputar competições e, se Deus quiser, quem sabe, um dia me tornar um profissional da modalidade”, concluiu Mailerson Requena.

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